mutação silenciosa

Quando observamos ao redor, percebemos uma infinidade de possibilidades de construir um desenho, palavra tão usada por todo aquele que procura representar suas ideias num determinado suporte. Contudo, é buscando um entendimento maior, que encontramos um campo destinado a identificar as ideias como uma forma de pensar, projetar, construir e desenhar um caminho em direção ao conhecimento das coisas. O desenho deixa de ser um risco e passa a ser uma entidade capaz de ganhar outros significados.

A escolha de um determinado material, muitas vezes, abre outros horizontes para o seu uso. Foi o que aconteceu quando escolhi a parafina, o gelo e algodão como elementos para confecção da obra “Mutação silenciosa”, constituída de pedaços de fusain imersos em blocos de parafina e gelo.

Em cada barra de parafina me aproprio dos “traços-objetos”, encontrados em cada caixa de carvão adquirida, um readymade do traço. O desenhar agora conta com a participação do tempo: tempo de fusão, solidificação e resfriamento da parafina ou congelação, descongelação e evaporação da água. A diferença de densidade existente entre os bastões de carvão vegetal, a parafina líquida e a água aponta para características do informe na elaboração do desenho-objeto.

O gesto realizado ao imergir os bastões de carvão na parafina em estado líquido, possibilita o encontro destes materiais, tornando uno. O desenho-objeto criado é um outro ser – representante da união de dois materiais. A sequência rítmica dos “traços” verticais, horizontais e oblíquos e ainda os fragmentos dispersos criam, muitas vezes, metáforas do cotidiano ou da imaginação daquele que constrói um diálogo com a obra.

Após a instalação das barras de parafina na parede da galeria, a imagem que temos é de uma grande linha desenhada na altura da visão do autor. O primeiro contato visual com a obra permite uma ideia de contiguidade, pois toda linha nos leva a um caminho, mesmo que este seja um caminho sem fim. O infinito é algo inatingível, pois cada vez que tentamos nos aproximar desse, mais ele se torna distante.

Em "Mutação silenciosa" há uma expressividade do indizível, um trabalho de investigação poética instaurado na matéria; assim, o que há de imaterial torna-se visível, e os conceitos de escultura, desenho e objeto tornam-se um único "corpo" na instalação, na qual o desenho não é riscado, escultura não é esculpida e objeto não permanece. Nestes, a mobilidade da matéria está condicionada às suas leis internas, assim como as existentes em nós, as quais o tempo é um elemento primordial na construção de novos significados.

Desenho não é só um risco, é o movimento da matéria no espaço do cotidiano, é o reflexo de um corpo por um instante sobre outro corpo, é uma reflexão sobre se mesmo, traçado mental, atemporal, onde o passado presente e futuro se tocam num único suporte, o homem - indivíduo.

silent mutation

When we look around, we see a multitude of possibilities to build a drawing, a word that is used by anyone who decides to represent their ideas in a particular medium. However, it is seeking a greater understanding, that we find a field destinated to identify the ideas as a way of thinking, design, building and drawing a path toward the knowledge of things. Drawing is no longer a risk and becomes an entity capable of winning other meanings.

The choice for a particular material often opens new horizons for its use. Tha is what happened when I chose paraffin, ice and cotton as elements to construct the work "silent mutation", consisting of a fabric called fusain pieces immersed in paraffin and ice blocks.

In each paraffin bar I appropriate myself of the "traits-objects" found in a previously acquired coal box, a dash of readymade. The design now counts on the participation of time: Melting time, solidification and cooling of paraffin or freezing, thawing and evaporation of water. The existing density difference between the charcoal sticks, liquid paraffin and water reports the preparation of the design object.

The gesture performed by immersing the coal bats in liquid paraffin allows the encounter of these materials, turning them into one. The drawing-object is another being - representative of the union of the two materials. The rhythmic sequence of vertical, horizontal and oblique "traces" and even the scattered fragments create, many times, everyday metaphors or the ones presente in the imagination of those who build a dialogue with the work.

After installation of paraffin bars on the gallery wall, the image we have is of a long line drawn at the height of the author's view. The first visual contact with the work allows an idea of ​​contiguity, for every line leads us to a path, even if it is an endless path. Infinity is something unattainable, because every time we try to approach it, the more it becomes far.

In "Silent Mutation" there is a expressiveness of the unspeakable, a work of poetic research initiated in the matter; thus, what is immaterial becomes visible, and the concepts of sculpture, design and object become a single "body" in the installation, in which the drawing is not scratched, sculpture is not carved and object does not remain. In these, the mobility of matter is subject to their internal laws, such as those existing in us, in which time is a key element in the construction of new meanings.

Drawing is nt only a trace, it is the motion of matter in the space oy daily life, it is the reflection of a body for one moment over another body, it is a reflection upon itself, a mental tracing, a timeless one, where the presente, past and future touch a single support, the man – individual.